quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O maior culpado

Chama-se Pornopopéia o maior responsável pelo meu sumiço absoluto destas linhas que vos escrevem. Um calhamaço muito provavelmente inapropriado para menores de idade, daqueles gostosos de se carregar pra cima e pra baixo quando acontece da gente grudar num livro sem conseguir largar até terminar. E quando termina, não consegue evitar pensamentos do tipo do “o que vai ser de mim agora”. Um puta livro, enfim, sem o perdão da palavra, porque se você tem alguma pretensão de mergulhar nas épicas horas do herói sem nenhum heroísmo ou caráter, puta é das mais leves que você vai encontrar.

Já faz mais de uma semana que aquelas páginas me abandonaram e insistiram, teimosas, em terminar, mas o vazio literário continua. Possivelmente intencional, depois daquela avalanche barroca de instantes dos quais fica impossível se desvencilhar. Pergunte a quem tentou falar comigo enquanto eu lia, gargalhando, e se irritou quando eu simplesmente não escutava me chamarem.

Tirando, obviamente, Benjamín, que me fazia fechar o livro sem tanta pena. (É recomendável ler o livro de Reinaldo Moraes concomitante às horas de sono do rebento, pois que se trata de dois entes, o rebento e o livro, que exigem plena atenção.)

Benjamín, que agora fala buuuuu apontando pra luz e auau pra toda e qualquer criatura viva não humana que se mova (borboleta, cavalo, pássaro e até cachorro), e emite os mais deliciosos e poéticos sons cujo sentido vamos existindo juntos.

E borboleta, cavalo, pássaro e cachorro significam que estivemos no sítio alguns maravilhosos dias, que nos deixaram com a vontade-semente de oferecer pro nosso amado sorridente mais amplidão cotidiana. Não é?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A greve

O fato

E num nem tão belo desses dias, na véspera de completar seus 9 meses, meu filho resolveu que não queria mamar.
Chorava ao nos aproximarmos do nosso cantinho das mamadas e mais ainda ao ver meu peito, me olhava com cara de desespero, berrava se eu insistia.

Eu

Um lixo.
Só queria chorar.
Sentindo a rejeição na carne, como se tivesse tomado o pior fora da vida.
Perdida, sem saber o que fazer com todos os horários do dia, da vida, organizados todos em torno das saudosas mamadas.
Perplexa: o desmame não era pra ser difícil pra ele? Não era eu quem tomava
tão árdua decisão?
Conjecturas

Ele cresceu, e não quer mais o aconchego do peito.
Como um novo nascimento, que caberia a mim autenticar, abrindo os braços vazios repletos de dor pra que sua voz se fizesse voz justamente através da minha escuta.
Porque os braços se abrem para abraçar, mas também para deixar ir.

(Mas havia algo de errado nisso, e não era só o dolorido da dor.
Havia algo outro.)

Efeitos

Primeiro, urgiu reinventar meu amor. Porque percebi, num susto, que eu via o amamentar como a única coisa que só eu poderia fazer por meu filho. E num disparate completamente lógico que só a maternidade pode proporcionar, era amamentando (eu achava) que eu me fazia mãe.
Então me vi, agudamente, órfã de mim mesma na nossa junteza. E me agarrei a ele como se tivesse que o reconquistar. Inventei novas brincadeiras, inflei cada minuto de uma necessidade extrema de me fazer presente, e eu era como um copo cheio de dor que transbordava no entanto em alegria.

Ignorãças

Num rompante de inconformidade com o que estava acontecendo, fui pela enésima vez consultar o Dr. Google. E com a mudança de uma palavra na busca, apareceu uma página que dizia:

É importante que a mãe não confunda o auto-desmame natural com a chamada “greve de amamentação” do bebê. Esta ocorre principalmente em crianças menores de um ano, é de início súbito e inesperado, a criança parece insatisfeita e em geral é possível identificar uma causa: doença, dentição, diminuição do volume ou sabor do leite, estresse e excesso de mamadeira ou chupeta. Essa condição usualmente não dura mais que 2-4 dias.

E outra, com respeito a possíveis causas da tal da greve:

Evento traumático repentino – o mais comum é mãe gritando quando o bebê morde o peito, o que é algo comum e compreensível de acontecer.

E, iluminada, feliz, esperançosa, olhei pro meu peito machucado das mordidas numa compreensão simples e apaziguadora.
E, disposta, li na Lia o que fazer com as mordidas que eu não queria mais levar. Muito, muito agradecida.

Desfecho

Benjamín está mamando deliciosa e maravilhosamente bem.
Nunca mais me mordeu.
E continuaremos vivendo felizes para sempre, até o próximo percalço.
Ufa.
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