Olho pra esses números aí em cima e pra página branca e de repente voltei à carteira da sala de aula de algum dos meus primeiros anos de escola, quando em idade era mais próxima de meu filho que de mim mesma hoje. Mais precisamente à pergunta que a professora nos tinha proposto: o que você estará fazendo no ano 2000?
Do recolhido do vasto dos meus sonhos anteriores, toda a inocência de quem tem um universo pra inventar como futuro. Escritora, médica, mãe, esposa... namorada, astronauta, motorista de um carro qualquer, universitária... Adulta!
E já se passaram dez anos do ano que significava pra mim o futuro. Estou no futuro do meu futuro de criança!, e ele incrivelmente me parece tão presente, tão natural e simples, que chego a me sentir em dívida com aquela que, lápis na boca, olhando pro teto da classe, via tanta magia nos dias vindouros. Por mais que os atuais tenham pinceladas de cada uma das possibilidades que eu me sonhava.
E aí... Olho pro meu filho. Ele dorme, ou ele brinca, ou ele se arrasta feito cobrinha pelo chão da casa. Ele sorri, ele gargalha, e o significado de cada coisa que me tornei é sublinhado na melodia que irrompeu da pausa do som de sua felicidade, ali no fôlego necessário pra que a próxima gargalhada aconteça.
(É necessário apenas um instante pra dar sentido a toda uma vida.)
E 2010, o futuro do futuro, passou.
Foi o ano em que me tornei mãe. O ano em que comecei a sonhar os sonhos de outro futuro. Através do gesto de olhar, e de amar, e de, mirando o possível do impossível, ir ao mesmo tempo pros próximos tempos e pro meu tempo que já foi, com absoluta gratidão a cada um dos segundos que, do agora, se organizam no caminho que converge ao que sou.
E então posso sorrir pra menina que escrevia do futuro longínquo no caderno.