quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A sogra

Se uma despedida tem tristeza como tonalidade possível, em se tratando de ir ou sair de Cuba essa tristeza se multiplica por si vezes e vezes. Eu sempre tento esconder bem escondida a grande dúvida, mas ela salta dos lugares mais inesperados, se insistindo nos transeuntes, no vidro do carro, nas chamadas do aeroporto: será que algum dia nos voltamos a ver?

A minha primeira despedida cubana foi assim, mas ali a dúvida pendia mais pra certeza de que nunca mais. Eu e Demis saímos andando para direções opostas na Paseo com 23, esquina em que nos abraçamos pelo que supúnhamos ser a última vez. E que não foi, vide esse mesmíssimo blog, rebento do rebento. Mas então não sabíamos disso, e seguimos cada um na sua direção, sem olhar pra trás pra saber se o outro também tinha lágrimas nos olhos.

E muito tempo e tanta palavra e instante e decisão se passou, e eis que hoje me vi voltando mais uma vez do aeroporto para trânsitos cubanos. Dessa vez, Eva, mãe do Demis, voltando pra Cuba de uma estada aqui em casa de cinco meses. Sua primeira vez fora de seu país.

Cinco meses. Benjamin tem quase seis. Sim, ela chegou quando ele tinha um mês e quatro dias. No meio daquele turbilhão que significa a chegada de uma pessoa ao mundo. Bem quando eu me procurava nos meus gestos como a Natalia-mãe que ainda estava descobrindo. Justo quando não saber era dolorido e vergonhoso e me chamava desde o meu mais íntimo. E então, no começo, a sua presença aqui me foi absurdamente difícil.

Foi necessário paciência e muito boa vontade de todos dessa casa. E no começo Eva tampouco se achava – era visível no olhar marejado que pedia licença o tempo todo. Mas ela foi se habituando aos cantos e achando as brechas que os dias lhe davam, e conhecendo os caminhos e os limites, e tudo foi se ajeitando. Enquanto ela se tornava a maior leitora da casa (ela, que tinha lido pouquíssimos livros antes de sua chegada), a maior andarilha (ela, que passava semanas a fio sem descer as escadas de sua casa em Havana) e a maior cinéfila (ela, que havia dez anos não ia ao cinema), ajudou aqui em casa como eu nem sabia ser possível. Muito leite do Benjamin veio da comida que ela cozinhou. Muita daquela paz de se ver a casa arrumada veio da mania dela de pôr tudo em ordem. Muito do que pude fazer – voltar a trabalhar, tomar banho tranqüila, cortar o cabelo... – veio do que me possibilitou sua presença.

Claro, houve horas terríveis, de querer espaço, de querer silêncio, de querer solidão. Horas de sentir que o limite já tinha passado. Horas de brigar, horas de chorar. Horas de querer ficar sozinha com Benjamin. Horas de querer ficar com Demis e Benjamin. Nós três. Mas eu sabia que as despedidas cubanas levam às últimas conseqüências o não sermos senhores das nossas vidas. E sabia que quando ela fosse embora a gente não poderia dizer quando ela e seu filho se encontrariam de novo. Ou se quando ela e seu neto se encontrassem, ele já estaria falando ou correndo.

E hoje foi o dia em que ela voltou pra sua ilha. E quando nos percebi indo em direção ao carro, Benjamin, Demis e eu, chorei uma tristeza muito triste e aliviada. Muito agradecida também. E feliz. Assim, bem misturado, incoerente, vivo.

Sua ausência ainda grita por aqui. A janela estranha a falta do seu olhar, e o colchão se esburacou a pedido de seus dias. Mas o silêncio tem trezentas camadas, e eu as escuto uma a uma. Escute:

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Relato de viagem (ainda difícil, mas nem tanto) - parte II

Feliz viagem de trem quando nos leva de onde não queríamos estar.

Feliz chegada ao abraço da irmã ali na plataforma mesmo, com direito a emocionar-se por chegar no que acolhe e fazia tanta falta. E por ela estar diante de mim grávida do Benjamin pela primeira vez.

Lembro bem do caminho da estação até a casa dela, as duas falando sem parar, aliviadas pela familiaridade enfim, fazendo emergir contenteza das respectivas tristezas (ela também passava por um momento bem difícil com o namorado holandês).

E mesmo acordando quase toda noite assustada com o que se passou em Paris, mesmo imensamente triste por não saber mais como pensar naquele querido amigo como querido amigo, mesmo ainda longe do Demis, a casa da minha irmã e ela me deram aconchego pra que eu pudesse gostar de estar ali e ousasse caminhar por aquelas ruas cheias de bicicleta com a devida curiosidade. Eu me lembro de sorrir enquanto andava e de travar os primeiros diálogos em voz alta com quem crescia debaixo do meu umbigo.

Ao comprar a passagem de trem Paris-Rotterdam – o que tinha feito no Brasil antes de descobrir que estava grávida –, eu imaginava uma estada na Holanda bem diferente do que de fato foi. Imaginava festas e altas bebedeiras e experimentações. Imaginava andanças curiosas e novos amigos turistas. Imaginava estar aberta pra inundação que pode ser viajar. E, claro, a minha estada ali foi bem diferente disso. Calma, vagarosa, até delicada. Com, ainda, muitos momentos difíceis, ainda que a presença da minha irmã os apaziguasse. Com muita caminhada, sim, mas a passo lento. Com muita experimentação, sim, mas de peixes deliciosos. (E com muitas compras na “H&M mama”!)

Ser turista ainda era difícil, principalmente em Amsterdam. A cidade é muito movimentada e muito pouco acolhedora. Tenho tido dificuldade em me sentir tocada pela beleza das coisas. Isso tem acontecido só de longe. Me sinto extremamente tocada pela saudade.

Mas houve ruas em que foi mais fácil transitar. Cidadezinhas lindas com seus canais e habitantes. Ilhas de areia onde até me arrisquei na bicicleta. Tudo permeado por uma busca nova. A nova maneira de viajar a que eu me via obrigada me lançava em outra busca, mais essencial. Estar grávida me impelia a me repensar inteira. Ou me pensar pela primeira vez. Agora, diferente, outra plenitude já me habita, e não há espaço para outras buscas. Tenho que tatear com os pés como se aprendesse a andar com outras pernas, que são também as minhas.

E foi na Holanda que fiz o ultra-som que disse que aquele que crescia era “ele”. Que cabia todinho na imagem e se mexia, me arrancando lágrimas felizes.

E foi na Holanda que percebi que uma antiga vontade de morar na Europa, de fazer algo por lá, já não existia em mim. A frieza do tempo e da língua e das pessoas me dizia constantemente que eu sou do país do abraço, qualquer que seja esse país.

Depois de duas semanas zanzando pelas terras baixas com a barriga (que já começava a despontar numa dureza diferente do resto), rumei a Barcelona, como havia planejado. E a última parte da viagem conto depois.


Em Vlieland, Holanda

sábado, 25 de setembro de 2010

Notícias da semana


Ontem, pela primeira vez desde a existência de Benjamin, lembrei que esse corpinho de (censurado) quilos não foi feito só pra gestar e amamentar, mas também pra bailar. Fomos a um show (registrado abaixo graças à querida Shirley), e tirando lembrar do filho a cada três minutos, dancei, gritei, pulei, enfim, me diverti deliciosamente. E até uns golinhos de smirnoff ice arrisquei, afogados rapidamente em uma garrafa de água por causa da culpa tontura que deu estar ali com tanta gente.



***
E como era de se esperar, hoje pela manhã acordei sem conseguir acordar. Não, não pode ser, eu pensava inevitavelmente ao escutar o chamado do Benja. Mas super-Demis levantou, me chamou só na hora de mamar e me devolveu pra cama, de onde fui sair só 10:10h. E felicidade era meu nome quando vi a hora no relógio.

***
Benjamin começou a fazer cocô de verdade. Fim do cocozinho cheiroso de leite (mães, digam que eu não estou louca e que o cheirinho do cocô de leite tem lá seus encantos). Isso significa que começou a vida alimentícia fora dessas tetas caídas quentinhas. E que a consulta na pediatra essa semana contou com uma cena melodramática de minha parte, respondida prontamente com o oferecimento, por parte da querida pediatra (que um dia desses ganha um post), da fita métrica pra que eu fosse lá no banheiro me enforcar. Porque Benjamin, pela primeira vez desde que nasceu, não ganhou peso. Então o leite da mamãe já não basta. Ui.

***
Benjamin ganhou colorido tapete de E.V.A. que agora enfeita a sala e o permite rolar pra lá e pra cá com mais conforto. Mais uma vez, obrigada, papai.

***
Em breve, a continuação do relato de viagem. E bom fim de semana pra todos nós.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Relato difícil de uma viagem difícil – parte I

Em agosto do ano passado decidi que queria viajar sozinha, sem marido. Na verdade, decidi o que as possibilidades me ofereciam: ele não podia tirar férias, eu estava mais que precisada delas e achei que seria bom sentir aquelas saudades gostosas dele. Um grande amigo estava em Paris, minha irmã em Rotterdam e eu cheia de vontade de voltar a pisar terras do velho mundo, já que desde a primeira vez em Cuba, como contei aqui, não consegui mais mudar de rumo. Então corajosamente inventei meu roteiro, comprei a passagem e já estava compondo cenas que mesclavam Natalia e o rio Sena, Natalia e o porto de Rotterdam e Natalia e a casa Battló, quando essas e todas as outras cenas que eu tinha imaginado não só pra viagem, mas pra vida, foram, uma semana depois, cuidadosamente chacoalhadas pela notícia repentina e surpreendente da minha gravidez.

Pausa.

Dias tumultuados: o novo da vida pra absorver, o corpo pra entender, cada momento pra reconsiderar e tantas outras melodias.

E a viagem pra decidir. Será? Uma coisa é ir mochilar na zoropa livre, leve e solta. Outra completamente diferente é levar junto uma criatura que se inicia ali debaixo do seu umbigo. E que te diz que mochila é muito peso pra carregar. E que talvez não seja hora de sair de perto de casa. Ou de perto do marido.

Mas ali no meio do tumulto, tendo que tomar uma decisão, escolhi viajar. Mesmo não sabendo que cenas compor pra colorir o imaginado de antes da viagem. Mesmo não sabendo o que levar na mala. Mesmo não sabendo como seriam as camas onde eu iria dormir.

Nunca tive problema nenhum em viajar sozinha, pelo contrário. Gosto muito. É poder viajar inteiro, estar amplo no desconhecido, aberto. Viajo sozinha pra outros países e pra sala de cinema aqui do lado. Mas grávida – aí a história era outra.

Hoje vejo o tamanho da loucura. Convencida por mim mesma (quando é que você vai poder fazer uma viagem dessas de novo?), de repente lá estava eu, com dois meses de gestação, rumo ao aeroporto.

Escrevi:
Nesta sala de embarque lotada, o estranhamento do enfim. Sensação de esguelha de ter esquecido alguma coisa. Relembro, sabendo que não esqueci nada: carrego em mim o essencial. Sou, eu mesma, casa. E gesto futuro. Parece que até aí eu ainda tava me convencendo a ir.

E pra logo ver como ia ser, viajar de avião grávida sem que ninguém soubesse disso foi mais duro que a encomenda. Começando pelas inúmeras vezes no banheiro. Passando pelo inchaço nas pernas. Pela vontade de alguma cumplicidade. E terminando num cansaço descomunal.

Cheguei invadida de cansaço, inundada de mim mesma, pernas inchadas, voz sumida. Os passos pesavam a acontecer, e dormir em plena tarde foi o que me fez poder chegar.

Cheguei em Paris, fui pra casa daquele amigo. Tentando sorrir, achar bom estar ali, falar nossa que máximo estou em paris. Mas o sono, o cansaço e a vontade do colo do Demis me arrancavam essas palavras.

E fui preenchendo os dias como me era possível. Toda a programação turística comum me teria dado enjôo, se eu tivesse tido enjôos na gravidez. Saía andando por aí, via um museu ou outro, mas aquilo não me tocava. Quase reconheci esquinas. Achei Paris excessivamente cheia. Que saco estar sempre rodeada de turistas. Os turistas são um saco, e ser turista é um saco. Turista é muito diferente de estrangeiro. Estrangeiro é outro. Turista carrega o mesmo, busca o mesmo e vê o mesmo. Sem se dar conta, o turista destrói o lugar sem ao menos haver estado ali. Eu não tinha vontade de conversar com ninguém. Sabe aquela curiosidade viajante de perguntar de onde vem, pra onde vai? Desviou de mim. Eu não imaginava uma conversa em que eu pudesse não dizer que estava grávida. E simplesmente não queria contar o que me era tão precioso prum outro qualquer.

(Parêntesis só pra dizer que já tinha estado em paris e tinha amado. Fecha parêntesis.)

É impressionante o pedido do meu corpo por recolhimento. Pedido sem palavras e que inclui também elas próprias. Um pedido mudo de silêncio. A cada dia queria estar menos ali. Que o tempo passasse rápido. Sentia vontade ardida de tocar no Demis. De dormir na minha cama, tomar banho nas minhas águas. Poder me concentrar inteira no meu sono e na minha barriga.

Até que aconteceu algo terrível, que não sei bem como contar, mas poderia descrever assim: eu e meu amigo que me hospedava começamos a falar línguas diferentes. Incompreensíveis uma à outra. Impossíveis, em se tratando de nós dois (éramos realmente muito próximos antes disso). E a única maneira possível dessas línguas se tocarem era em forma de discórdia. Brigamos. E me vi completamente perdida em Paris, grávida, choro constante, sem ter canto.

(Não sei se esse meu amigo vai ler isso algum dia. Depois dessa viagem, não nos falamos mais. Foi duro, e rasgou nós dois. Éramos, então, pedra (eu) e pássaro (ele). Da concretude que eu vivia era impossível levantar vôo. Aqui, tento não fazer julgamentos. Mas sei que estávamos ambos certos e errados.)

Os dias passaram e minha estada de nove dias em Paris acabou.

Foi com um alívio enorme que sentei no trem que ia me levar a Rotterdam.

E como escrever disso foi infinitamente mais difícil do que eu pensava, o resto da viagem continuo depois.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Nasceres

Antes de ser um, brotam de espasmos tuas metades – espasmos que a dor do prazer contrai, ex-pulsando do impossível o que, junto, vira ser.

Você de mim se faz então, de matéria invisível crescendo em corpo, e o suor do teu crescer te rodeia em dentro meu. Habitando-me ao te surgir, ser tua casa me faz casa. E arredondada me nasço enquanto, de novo, te ex-pulso.

Pra novo maior: mundo. Grito chorado choramos no instante em que esse vasto agora se dá. E abafamos com o leite úmido, que tece frases em jorrar-se, a palavra recolhida através de teus goles. Leite então é amor, até a hora de leite já não bastar. E pra amor ser ainda amor, te ex-pulso do meu peito e te recolho em meu colo.

Colho nos braços o que agora consiste na tua amplidão. Mas teu caber já logo não te serve, e preciso estender a casa que fiz pra você aqui perto colado pra perto alonjado. Ao alcance da vista, mas de novo ex-pulso.

E teu correr e ocupar ultrapassa as paredes do mundo que era o meu. Te amar é me recolher em ainda outra ex-pulsão. Só: eu sempre contigo, mas te ensinando a dar passos que nunca conheci, através de te deixar.

E você ganha mundo. Já não te vejo, já não te abraço, já não te alimento, já não te abrigo. Aí, já não existo. É teu próprio pulsar que te ex-pulsa agora; é tão vasto o novo vasto que não tem limite. Por isso finda, no rasgo da cisão do que se juntou naquele ex-pulsar primeiro.



(Nasceres, ou desde um futuro longínquo, ou a culpa eterna da mãe ou agradecimento ao Guto em forma dum dizer)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"Surra" de beijo

(surra, só de beijo. E sem dor!)

Obs. alguns dias depois: Surra, aí, quer dizer nada mais que rodear e encher e lotar de beijos melados gostosos grudentos e absolutamente irresistíveis (fiquei encanada com a palavra surra esta noite. E resolvi voltar pra me explicar)


Mas olha a cara que ele faz...



sábado, 18 de setembro de 2010

Dias de mãe, dias de filho

Os dias que antecedem um nascimento são mágicos. Tudo ainda está igual, mas prestes a ser virado do avesso. É uma espera que acontece em cada detalhe e no leito de mundo em que se dá cada gesto. Gesto: em uma das línguas, portar e trazer. Quando se gesta com o corpo, cada movimento, pensar, dizer, carrega o que será trazido pelo mesmo gestar. Traz o que cresce em forma de gesto na barriga. Porque o futuro, aí, nunca esteve tão condensado e palpável. Dentro. Vivo. Dando chutes, cabeçadas e cotoveladas.
O nascimento é uma explosão. Não importa o preparo. Haverá estilhaçamento: da calmaria, da expectativa, da passagem. Um estilhaçar absurdamente feliz, no nosso caso.
A saída de casa para a maternidade é uma saída bem mais ampla. É uma saída do comum, dos dias que já se conhecem, da casa como era até então, e principalmente de si mesmo. (Fico pensando em como seria o parto em casa. Pra mim, a saída foi essencial. Até pelo voltar e encontrar tudo tão igual e tão, tão diferente.)
Escutar o choro do meu filho pela primeira vez foi o que de mais intenso senti na vida. Eu chorava também com todo o meu corpo, e hoje sei: chorava o mesmo choro dele, que ele ali mesmo me ensinava. As horas que se seguiram foram de êxtase. Os dias, também. Admiro quem escolhe ter filho em casa, mas a maternidade (hospital) pra mim foi incrível. Até a dor que me vergava pra frente cabia naquilo que acontecia. Eu não conhecia, até então, felicidade tão incondicional, tão imensa e ao mesmo tempo tão comum. Como se aquele inédito fosse expressão da convergência de cada momento meu anterior e por isso, mesmo inédito, estranhamente reconhecível. Deve ser isso o que acontece quando vamos de encontro ao nosso próprio destino.
E foi imersos em tamanha felicidade que deixamos o hospital. Já no caminho pra casa a felicidade foi tomando outras formas, nem tão contentes. Benjamin fez cocô no caminho, e o cocô vazou da fralda pra toda roupa dele, e eu não tinha outra coisa que fazer, ali no carro, que não cantar, tentar distrai-lo do seu incômodo, tentar me distrair do meu desespero e escutar seu choro agudo e dolorido.
Chegamos em casa (a primeira vez do Benjamin em sua casa) com a tarefa de limpar aquela criaturinha chorante de todo aquele cocô espalhado. Era muito, e achamos que dar um banho seria melhor e até quem sabe o acalmasse. Doce ilusão. O preparo do banho já foi um deusnosacuda (com direito a mangueira da banheira esguichando água pelo banheiro todo), e o banho em si também. Nunca foi tão drástico e decisivo abrir o aluminiozinho do tubo de hipoglos ou entender qual o mecanismo de saída daquela embalagem de sabonete líquido.
Os dias que se seguiram trouxeram desespero semelhante. Tanto amor e tamanha fragilidade, conjugados com meu desejo de cuidar como cria ser a melhor forma, me faziam prever que nunca mais eu teria um momento que pudesse chamar de meu. Que nunca mais dormiria mais de três horas seguidas. Que nunca mais tomaria um banho sem tentar escutar, por entre o barulho da água, alguma manifestação de choro.
Nessa época, quando via uma grávida na rua (nas poucas vezes em que botava os pés na rua), pensava inevitavelmente que ela não sabia o que a esperava. Olhava pra cara de felicidade dela e pensava, coitada. Olhava também pras pessoas andando e fazia cálculos mentais tranqüilizadores: essas pessoas já foram bebês. Os pais delas hoje nem sabem que elas estão aqui nessa calçada. Eles devem ter uma vida “normal”, então. Então um dia eu também vou ter.
E as horas, as mamadas, os dias, as dormidas foram passando. Eu fui aprendendo a conhecer Benjamin, ele foi aprendendo a conhecer o mundo. E, de alguma maneira, imperceptivelmente, as coisas foram se ajeitando. E de repente eu me vi vivendo uma vida “normal”. (Bom, quase normal.) E ainda por cima, com Benjamin. Foi um daqueles momentos em que se é feliz duplamente, por ser e por se saber.
E que se estende até este momento em que teclo estas palavras. Não que a vida seja igual o que era antes. Isso seria impossível. A vida cresceu. Não pelas possibilidades cotidianas, mas pelo que cada possibilidade significa agora. Tudo ganhou outra tonalidade, outra importância.
(É por isso que nesta noite de sábado faço o que mais desejaria estar fazendo agora: escrever, enquanto escuto o silêncio e sua música quieta vindo do quarto do Benjamin.)
Continua...
(cotidianamente)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O prédio da frente (ou uma janela indiscreta)

Quando Benjamin tinha suas poucas semanas, um lugar da casa muito freqüentado pelo colo da vez era a frente da janela da sala. No intervalo de depois da mamada ou no tempo de fazer dormir ou acalmar, lá ficávamos, olhando pra longe (sim, a janela aqui oferece tamanha regalia nos céus ocupados desta cidade cinza) ou pra perto, mais precisamente pro prédio da frente.

Lá ficava eu, Benjamin no colo, horas a fio, com as pernas um pouco afastadas e aquele balanço praláepracá no corpo (há que se dizer que o tal balanço foi flagrado se insistindo em situações equívocas, como elevador, conversa ao telefone, filas de espera variadas, etceteras mil, situações em que os braços estavam desocupados). E, indiscrições janeleiras à parte, fui me apegando mais e mais à fachada, às cortinas, luzes e habitantes do prédio da frente, com seus contornos e hábitos que se tornavam familiares.

Eu contava os andares, adivinhava acenderes de luzes, movimentos, rotinas. Graças ao binóculo à minha visão de lince, acompanhava as horas da senhora do último andar, sentada na poltrona, carretel de lã caindo dos joelhos. E adivinhava o significado dos gestos da conversa do casal do sétimo. Bisbilhotava o que assistia o morador do quinto andar enquanto se empenhava na monotonia de uma bicicleta ergométrica; sorria com as crianças do primeiro, que brincavam enquanto o pai pintava telas no quarto ao lado.

Nas madrugadas, me sentia solitária. O décimo primeiro às vezes dormia tarde, mas às quatro da manhã, mais ninguém. Só aos finais de semana, quando eu adivinhava meias-luzes nas frestas das persianas abaixadas. Quando tudo escurecia, eu buscava no longe qualquer luz de outro prédio, implorando pra me dizer que eu não era a única criatura (além dos outros moradores desta casa) que àquela hora não dormia. (Poxa, eu pensava, não tem mais nenhum bebê na região? Ou será que tem e o meu amado Benjamin é o único da cidade que ainda não dorme a noite toda?)

E os dias foram passando e o amado Benjamin crescendo e o mosaico de luzes do prédio da frente (caleidoscópio disperso no tempo) ficando por ali do outro lado da rua, e nós deste lado de cá, cada vez menos na janela. E menos. E menos. Menos.

Até eu me perceber, olhando de relance a família do sexto na mesa de jantar, saboreando uma certa saudade daqueles companheiros mudos. Uma nostalgia de ter o Benjamin nos braços por tanto tempo. Pequenininho, acalorado no meu balançar, enquanto imaginava o cachecol que se formava pelas mãos da senhora do último.

E nos dias frios que nos visitaram, quando andava por aí na rua, mirava cada senhorinha de cachecol das redondezas com olhos de quem sabe a trama daqueles tecidos.


***

Comemoração bem modesta mas bem contente, envergonhada de pequena, admirada dos queridos blogs aniversariantes de verdade: hoje o leite e prosa faz um mês!

domingo, 12 de setembro de 2010

Benjamin, Natalia

Benjamin,

Cada dia te faz mais você.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


E pondo fim às crises bloguísticas (que nunca, nunca, nunca surgem de ti), te agradeço, filho meu, por também este nascimento. Que o leite e prosa possa um dia te trazer em forma d’alguma lembrança estes nossos dias lindos.

De te ver sorrir, de te ver crescer.

E escrevo, descobri, porque a tua existência me impele, instantes todos, a ser também mais Natalia.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Enfim, dicas (e otras cositas más)

Porque nem só do denso vive a palavra, e nem só de palavra vive o blog, resolvi tomar, ofegante, um pouco de ar. E falar de coisa leve e boa.

Coisa leve e boa número 1:

Dança Materna. Pra quem não conhece[e mora em sampa! tinha esquecido de dizer...], uma aula de dança pra mães com bebês pequenos, pra mães com bebês já grandes e pra mães ainda grávidas. A primeira vez que eu fui o Benjamin tinha uns 2 meses, e já no alongamento do começo da aula, enquanto ele se divertia olhando outro bebê assim tão de perto pela primeira vez, eu me surpreendi com a voz da minha coluna dando gritinhos de alívio e alegria por eu me lembrar que ela fazia parte de mim e não do meu rebento. Simplesmente delicioso. E divertido. Pra mim e pro meu Benjamin.

Coisa leve e boa número 2:

Parto, espetáculo de dança da Tatiana Tardioli da mesma Dança Materna, com sessão especial pra mães com bebês dia 19 de setembro às 16:30h. Bora? Violoncelo ao vivo e tudo.

Coisa leve e boa número 3:

Fazer compras de roupas lindas e macias e cheirosas pro Benjamin pela internet e receber tudo muito, muito bem. Muito agradecida, viu, Minha mãe que disse e Companhia das mães!

Coisa leve e boa número 4:

Ganhei meu primeiro selinho! Olha ele aí:


Muito agradecida, Mari!
E pra fazer jus, além de dizer quem foi que me deu, eu tenho que dizer 9 coisas sobre mim (difícil) e indicar 9 blogs pra ganhar o selo (fácil).
Lá vai, em forma de confissão:
1- Ando profundamente preocupada com as manchas na cara, os quilos que persistem, o cabelo que alisou e o cérebro que segue embebido, ainda que há cinco meses não mais gravídico.
2- Pelo motivo anterior, não consigo achar uma foto decente recente pra colocar aqui no blog.
3- Não faço a unha nem assisto televisão.
4- Só dr. House e jogo do Corinthians.
5- Não tô conseguindo ler nada que não seja relacionado a blogagem desde o dia 14 de agosto último, nascimento oficial do leite e prosa.
6- Nina Simone e Elis são as minhas mulheres queridas. Renato Braz foi minha última descoberta musical. Mas também gosto de Fagner. E A-ha.
7- Saudades de escutar música no talo. E de tomar um belo porre.
8- Sinto falta da Chats, da Mari, da Baixa, da Teca, da Colô, da Tsei, da Chun por aqui... (por aqui virtual e literal!)
9- Adorei ganhar esse selinho, mesmo (confissão dentro da confissão) ficando algo constrangida de dizer 9 coisas sobre mim.

Indico como profundamente merecedores de um selo de qualidade, mesmo sabendo que de tal coisa prescindem: Mari Rocha, Mari Portela, Rosália, Henrique, Carol, Flávia, Mari BZ, Paloma e Lia (e mesmo sabendo que alguns deles já devem ter um monte de selinhos deste).

Coisa boa e leve número 5 (ou last but not least):

Vamos votar no pequenoguia pra livro?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Das curvas, das mães

Imagino que já deva ter passado na cabeça de outras mães. E que quem não tem filhos talvez tenha dificuldade de vislumbrar o tamanho da descoberta. Mas num belo dia, daqueles bem difíceis do começo da vida do Benjamin, eu entendi num clic de ficha caindo que a maternidade iguala as pessoas.

Foi assim: o meu despreparo diante do meu filho era enorme. O passar dos dias (das horas, dos instantes) me trouxe em forma de algum tipo de certeza que o despreparo de qualquer pessoa do universo diante do meu filho, Benjamin, seria também enorme. Porque é necessário despreparo para se estar diante do inaugural. É necessário ignorância. É necessário abertura disposta, e portanto vazia. E também a mudez que pode recolher numa escuta um som que se inicia como linguagem.


Qualquer saber, eu entendi, não seria exato. Ser mãe é ser curva. Desde o redondo da barriga e das mamas até o torto e o impossível das certezas. Passando pelo acolher sem pontas que incomodem – o círculo macio do abraço.


E isso independe da mãe, contanto que o seja. Branca, preta, ruiva, amarela. Biológica, adotiva, escolhida. Pobre, rica, milionária; estudante, analfabeta, PhD. Famosa ou gente comum. Nenhuma condição anterior a ser mãe dá ponto de partida que não seja o zero. Nenhuma condição anterior a ser mãe apresenta, antes que elas mesmas se dêem, as madrugadas insones. A insegurança de dar banho. O prazer de alimentar, qualquer que seja a maneira. O quente dum sorriso banguela. As choradeiras mil (do filho e da mãe). O olhar que se vê no olho que vê pela primeira vez.


Iguais Natalias, Marias, Maries, Giseles; Kalilas, Mitikos, Gimbyas, Jeannes...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Desabafo blogueiro

Li um texto que, assim como a chuva de hoje veio molhar o que estava úmido em mim, inquietou o que já não achava lugar de se assentar. Um texto preciso, belo e assustador.


(estou aqui tentando continuar este escrito e ele emperrou. Não anda, simplesmente. Talvez porque o quê-dizer exija escrita verdadeira. Aquela que motivou eu começar a escrever esse blog aqui, mas que, descobri, é a menos necessária pra continuá-lo. Ontem mesmo me flagrei pensando isso: que pra se ter um blog, o que menos se precisa é escrever. Fazendo justiça com as devidas exceções, exemplo das quais é o blog de onde vem o texto. Mas eu, que me sei habitante da sombra ainda que tão, tão viva, já me assustei com a minha própria alegriazinha ao ver que meu blog tem mais um seguidor. Ou mais um comentário. Ou que o número de pessoas que o vem ler cresce. Bom, ler eu não sei. Mas olhar.


E então eu, que pra começar tive que me haver com as desculpas que me detinham de escrever por tantos anos, me vejo agora com a necessidade de me justificar pra continuar. Já aconteceu algumas vezes de eu estar fazendo outra coisa e de repente me assustar com a lembrança de estar fazendo um blog (fazer, e não escrever, é o verbo exato). Assustar e junto me arrepender. Por que raios, eu penso então, decidi começar esse treco?, eu me pergunto, tentando enfiar nalgum lugar que caiba a súbita vergonha da absurda exposição a que me estou submetendo, como se de repente tivessem me tirado a roupa, ou melhor, como se já eu tivesse tirado minha própria roupa e de repente me descobrisse enfim exposta da minha nudez anterior. Ou quem sabe o que me envergonhe seja o disfarçado da minha nudez. Motivo que me fez vacilar pra escrever este mesmo texto, porque sabe-se lá se as pessoas vão gostar disso aqui.


Pensando ainda no texto que motivou isto que parece estar caminhando prum desabafo, percorro outros incômodos. Por exemplo, aquele que eu sempre sinto ao entrar na Livraria Cultura (será que eu posso dizer o nome dela aqui?). E me ver sufocada de tanto, tanto, tanto livro. E ver sufocada a vontade que eu tinha desde criança de escrever meu próprio livro. Pra quê?, eu sufoco, pequena no meio de tantas capas e cores e mais-vendidos (que eu sempre vou olhar e tenho vontade de comprar), diminuindo ainda a cada passo diante das prateleiras.


Decidi não comprar livros por um tempo. A não ser pra presente. Até agora está funcionando, e eu ainda tenho uns 60 livros no quarto que são os próximos (sim, o número é quase esse, um dia eu contei). Porque eu tinha virado compradora de livros e não leitora. E, quando me vejo na livraria com uns 3 na mão, seguro o ímpeto de compra-los lembrando do que li por cima folheando, naquela mesma livraria, o último livro do José Mindlin. Não vou saber reproduzir exatamente, mas era algo sobre a necessidade de esperar alguns anos pra ver se o novo livro “ficava” ou se não era só mais um livro de capa bonita e nada mais. Nada contra as capas bonitas. O problema é o nada mais e as infinitas novidades.


Infinitas novidades também no cinema. Eu já desisti da mostra de cinema, apesar de ter visto filmes belíssimos nos anos em que mergulhava. Bom, agora com o Benjamin, nem se eu quisesse. Mas ano passado eu estava grávida e até poderia ter de novo a tal da credencial, mas a gravidez dá uma medida pra importância das coisas que me fez escolher não ir à mostra com aquele furor. Não dá tempo de degustar, de deglutir, muito menos de digerir. Não dá tempo. E quando não dá tempo, ao invés de correr, é preciso desacelerar. Permitir-se debruçar sobre um instante apenas.


Talvez por tudo isso me seja tão difícil reler. Tenho a terrível sensação de que poderia estar lendo algo “novo” ao invés de algo de novo. Mesmo que eu saiba que a releitura às vezes nos dá a verdadeira leitura pela primeira vez. Lembro das anotações de uma querida amiga, que tem um barco e se chama Bia, que ocupavam todo o espaço em branco da folha, num mergulho incomum e maravilhoso. Eu queria poder ler como ela.


Mas chega deste parêntesis).


E o escrito que eu queria não consegui continuar. Estou meio brava. Vou sair da frente computador e viver minha terça-feira chuvosa de feriado.


Respeitável público, amanhã eu retomo os textos desse blog como têm que ser. Sem desabafos digressivos livre-associativos.

domingo, 5 de setembro de 2010

Tanto amar

Benjamin agora de manhã, sabe-se lá por que cargas d’água, resolveu não dormir. Ficou no berço ora chorando, ora brincando, e depois de duas largas horas desistimos, nós e ele. Aí “sentou” com a gente pra tomar café da manhã, deu risadinha e começou a ficar irritado, como era de se esperar. Já era quase hora de mamar, e resolvi ficar com ele no colo. Mas ele continuou seus resmunguinhos. Foi se acalmar só quando pus o como pode um peixe vivo viver fora..., música que, na versão violão do MPbaby (ai que nome estranho), foi das top five quando a gente o embalava até ele cair no sono. E foi apoiando a cabecinha no meu ombro, e colocando a mãozinha no meu pescoço, e quando eu vi ele já tava dormindo, todo aconchegado em mim. E eu toda aconchegada nele, percebendo, ao som daquela música, que saudade eu tava desse soninho abraçado.


Então eu deitei no sofá com ele enroscado no meu pescoço. E sentindo sua respiração como uma carícia, fui deixando emergir um sentimento que está aí sempre desde seu nascimento, mas que, com ele todo encostado em mim, perninhas, barriga, bracinhos abertos no meu colo, mãozinhas tocando minha pele, inflou e virou uma paixão ardida dessas que doem de não caber. E o respirar dele e o meu entraram num só compasso, e a música nos imitava em forma de ritmo, e nosso mútuo roçar era amor traduzido em pele. Eu com uma mão no seu cabelo ralinho, macio, outra apoiando suas costas, abraçando completa, com todo meu existir, aquela criatura entregue ao seu sono em mim, aberta no seu respirar, no seu sonhar, no seu receber que dá. Assim ficamos, juntando nosso calor no frio desse novo dia, tocando-nos como se, num fractal, cada pedaço nosso fosse o gesto inteiro. Amor.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Papo árabe

A primeira “palavra” que Benjamin falou foi Abu.

Abuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, ele dizia. E repetia, e sorria, e seguia conversando.

Demis ficava horas batendo papo com ele:

- Abuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, dizia Benjamin.

- Abuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, respondia Demis.

Um dia a gente foi num restaurante árabe. E ficamos conversando com o dono, que era mesmo árabe, com sotaque e tudo. Papo vai, papo vem, o Demis pergunta: “Abu” significa alguma coisa em árabe?

O dono do restaurante: sim. Quer dizer “pai”... E ainda acrescenta: meu pai!

Demis me olha com aquela cara de “eu sabia”. O sorriso do vencedor explodindo nos lábios.




Orgulho do papai...



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Influências

Preciso confessar uma coisa. Se o tipo de letra pudesse ser, ao invés de arial ou verdana, “cochichado”, isso que você lê agora seria sussurrado ao pé do ouvido.

Mas precisa ser dito, por uma questão de esclarecimentos.

Sabe quando você lê um livro daqueles muito bons, impossíveis de largar, cujo autor tem todo um estilo próprio admirável, e quando você vai escrever se pega usando frases, construções, neologismos, à la tal escritor?

Então. Isso tá acontecendo comigo. Mas não com o livro que eu to lendo, que por sinal tá borocochô todo esquecido do lado da cama, juntando poeira, desde que comecei esse negócio de blog. Tá acontecendo é com os blogs!

Caramba.

Eu me pego escrevendo “entãos”, “daí quês”, e tentando (obviamente em vão) todo aquele traquejo gostoso da
Mari. Corro atrás da ironia deliciosa e habilíssima da Roberta (e penso depois daqueles posts dela, comé que eu vou conseguir escrever um post de novo, desgramada?). Planejo mudar o blog pra ficar bonitão, bem escrito e todo musical como o da Carol. Me guio pela sensibilidade e beleza dos posts da Mari. Tento a delicadeza carinhosa e tranqüila da Flávia. A versatilidade bem humorada e escrita da Carol... (eu poderia continuar, mas poxa, aí o que sobraria pra dizer que é meu???) Aimeodeos (diria a ). E isso que eu to só começando essa vida de blogueira.

Além de sofrer um abalo de identidade próprio da maternidade, tem esse também? Ondé que foi parar meu estilo, se é que eu tinha um? Será que vai ser igual as manchas na cara, a barriguinha flacidinha, coitada, o cabelo liso, o peito que num aponta mais
pra lua não – coisas que fazem as pessoas te olharem com pena e falarem, pra ver se ajuda, que vai passar?

(aproveito o tem confessional pra declarar minha total crise com o cabelo liso. Quero meus cachos de volta! Eu tenho cabelo pixainzinho! Tenho, tenho, tenho! Cadê ele, pô?)

E, gente do céu, como é possível conciliar mãescença, trabalho, esposice, leituras (que eu pretendo retomar um dia) com ter um blog? Existe alguma maneira? Hein? Hein?

Bom, tá dito. E agora me retiro que ainda vou vasculhar algumas gavetas que faltaram pra ver se encontro escondido por lá o tal do meu estilo.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...