segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Como?

Cortando a unhazinha minúscula do Benjamín – nunca se viu nada tão pequeno no universo, e a relatividade se reafirma com o tamanho comparativamente gigante do cortador – desponta um filete de sangue acompanhado de choro agudo doído. E minha maior surpresa, neste momento, é não encontrar em mim dor física que justifique tal pranto.

Como?

Como?, eu me pergunto a cada choro de dor, a dor dele não dói em mim?

Porque a dor que dói em mim é outra: acontece no peito, em aperto, pela dor que eu sei que ele sente; e pela dor que eu sei que ele sente não ter me escolhido, ali, como quem dói.

Ser outra que não ele.

E ele, desde já, desde antes, quando se iniciou, ter se iniciado como aquele que tem que doer sozinho.

(Será essa a forma inaugural da eterna culpa da mãe?)

Por mais que eu beije, e chore, e abrace, e doa.

13 comentários:

Anne disse...

lindo... tb já arranquei sangue do meu filho. Dói mais na gente... certeza!
Raios de cortadores...
bjo

Sarah disse...

Natalia, eu morria de aflição de cortar as unhinhas quando Bento era bebezico. Não sei o que me dava mais aflição, as micro unhas ou limpar o umbigo! Mas nunca saiu sangue... ou eu cortava com ele dormindo ou a passo de tartaruga. Agora com ele maiorzinho querendo "ajudar", a probabilidade de arrancar um naco é maior! hahah!
bjos!

Paloma Varón disse...

Ai, dói mais na gente, eu acho. Porque a dele passa logo e a nossa volta e meia dá as caras. Mas eu acho que a forma inaugural mesmo se dá ainda na gravidez.
Beijos

Naiara Krauspenhar disse...

Não sei em quem dói mais, mas dói muitoooooo!!!!
Unha não devia crescer até por uns 3 anos de idade... rs
BJokas

Rebeca disse...

Oi Natália, pra mini unhas use mini tesouras. Não sei se minha coordenação motora não é boa, mas com cortador num consigo! Agora a culpa....

Dmis disse...

a dor de pai "cortador de unhas" é diferente... até porque fui eu o ultimo a cortar um pedacinho (um quase nada) e que sangrou um tanto... mas já tem a dor da mae (já é suficiente) que se eleva e cresce gigante, e deixa TODO o demais pequeno, (quase insignificante)... com isso, pra nóis [♂] so resta o equilibrio... "é nada, só um corte" e continua "vocé é muito fresca"... pior é, que não é só uma fala, e sim, até a única (a última) possibilidade...

Dica: com mini-cortador de unhas nem é tão dificil, viu!!!

Tatiane Garcia disse...

Natalia, doeu em mim, as 2 dores: a dele e a sua!!

lindo texto!!!

Carol disse...

hunf...

dor que dói sozinho mas junto.

Unknown disse...

Ai Natália, ninguém merece!!!! Tadinho!!! Não tem dor pior para um serzinho tão pequeno!

Leticia W. Borges disse...

essa culpa de mãe, que dói a dor do filhote, cada cena que ele vive e que vc consegue se pôr no lugar dele e saber ele inteiro. O mais louco é quando eles começam a ser eles um, tanto por eles mesmos e com todos os traços de diálogo conosco. realmente, é a expressão do amor. e como. acho que a culpa deve diminuir quand...o percebemos que podemos e machucamos sem que isso nos rasgue, dilacere totalmente, sem que isso o dilarece, afinal é preciso cortar a unha, é preciso passar por certas dores e frustrações. e mais nessa dor provocada que não se quér diante da fragilidade enorme deles, percebemos que ele tb pode nos desculpar, tb pode preceber-se um pézinho, diferente do nosso. é lindo de vertd isso não responde a sua pergunta, mas que pergunta linda: como?

Dani, a Mãe da Flor disse...

Nossa dor no peito chega a ser física, aquele aperto desmedido... quase morri com esta tal dor no dia que MF caiu do carrinho de cara no chão... até hj, quando lembro, sinto a tal dor... e a vivo intensa e novamente.
Com certeza é a tal culpa materna...
Bjs!!

Ilana disse...

Nati, vim aqui comentar ontem e travou, acabei não conseguindo...
Mas eu ia falar que é tão bonito isso de ele ser aquele que tem que doer sozinho, tão separado da mãe e tão junto que também dói nela. E bonito porque se dói sozinho, é também sinal de que satisfaz sozinho, ri sozinho, aprende sozinho... mesmo a mãe ali do lado, querendo garantir que venha tudo dela, quando o máximo que podemos fazer é acompanhar rir/chorar/doer/aprender junto com eles.
Beijos

ian.press comunicação disse...

eu que ainda estou com a pequena na barriga já fico me controlando pra não fazer ela sofrer (oi??) rs
quando quase não descanso e vejo que ela fica mais quietinha, quase morro de pena... dói no coração. hoje te entendo perfeitamente.

bj bj

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