terça-feira, 7 de setembro de 2010

Desabafo blogueiro

Li um texto que, assim como a chuva de hoje veio molhar o que estava úmido em mim, inquietou o que já não achava lugar de se assentar. Um texto preciso, belo e assustador.


(estou aqui tentando continuar este escrito e ele emperrou. Não anda, simplesmente. Talvez porque o quê-dizer exija escrita verdadeira. Aquela que motivou eu começar a escrever esse blog aqui, mas que, descobri, é a menos necessária pra continuá-lo. Ontem mesmo me flagrei pensando isso: que pra se ter um blog, o que menos se precisa é escrever. Fazendo justiça com as devidas exceções, exemplo das quais é o blog de onde vem o texto. Mas eu, que me sei habitante da sombra ainda que tão, tão viva, já me assustei com a minha própria alegriazinha ao ver que meu blog tem mais um seguidor. Ou mais um comentário. Ou que o número de pessoas que o vem ler cresce. Bom, ler eu não sei. Mas olhar.


E então eu, que pra começar tive que me haver com as desculpas que me detinham de escrever por tantos anos, me vejo agora com a necessidade de me justificar pra continuar. Já aconteceu algumas vezes de eu estar fazendo outra coisa e de repente me assustar com a lembrança de estar fazendo um blog (fazer, e não escrever, é o verbo exato). Assustar e junto me arrepender. Por que raios, eu penso então, decidi começar esse treco?, eu me pergunto, tentando enfiar nalgum lugar que caiba a súbita vergonha da absurda exposição a que me estou submetendo, como se de repente tivessem me tirado a roupa, ou melhor, como se já eu tivesse tirado minha própria roupa e de repente me descobrisse enfim exposta da minha nudez anterior. Ou quem sabe o que me envergonhe seja o disfarçado da minha nudez. Motivo que me fez vacilar pra escrever este mesmo texto, porque sabe-se lá se as pessoas vão gostar disso aqui.


Pensando ainda no texto que motivou isto que parece estar caminhando prum desabafo, percorro outros incômodos. Por exemplo, aquele que eu sempre sinto ao entrar na Livraria Cultura (será que eu posso dizer o nome dela aqui?). E me ver sufocada de tanto, tanto, tanto livro. E ver sufocada a vontade que eu tinha desde criança de escrever meu próprio livro. Pra quê?, eu sufoco, pequena no meio de tantas capas e cores e mais-vendidos (que eu sempre vou olhar e tenho vontade de comprar), diminuindo ainda a cada passo diante das prateleiras.


Decidi não comprar livros por um tempo. A não ser pra presente. Até agora está funcionando, e eu ainda tenho uns 60 livros no quarto que são os próximos (sim, o número é quase esse, um dia eu contei). Porque eu tinha virado compradora de livros e não leitora. E, quando me vejo na livraria com uns 3 na mão, seguro o ímpeto de compra-los lembrando do que li por cima folheando, naquela mesma livraria, o último livro do José Mindlin. Não vou saber reproduzir exatamente, mas era algo sobre a necessidade de esperar alguns anos pra ver se o novo livro “ficava” ou se não era só mais um livro de capa bonita e nada mais. Nada contra as capas bonitas. O problema é o nada mais e as infinitas novidades.


Infinitas novidades também no cinema. Eu já desisti da mostra de cinema, apesar de ter visto filmes belíssimos nos anos em que mergulhava. Bom, agora com o Benjamin, nem se eu quisesse. Mas ano passado eu estava grávida e até poderia ter de novo a tal da credencial, mas a gravidez dá uma medida pra importância das coisas que me fez escolher não ir à mostra com aquele furor. Não dá tempo de degustar, de deglutir, muito menos de digerir. Não dá tempo. E quando não dá tempo, ao invés de correr, é preciso desacelerar. Permitir-se debruçar sobre um instante apenas.


Talvez por tudo isso me seja tão difícil reler. Tenho a terrível sensação de que poderia estar lendo algo “novo” ao invés de algo de novo. Mesmo que eu saiba que a releitura às vezes nos dá a verdadeira leitura pela primeira vez. Lembro das anotações de uma querida amiga, que tem um barco e se chama Bia, que ocupavam todo o espaço em branco da folha, num mergulho incomum e maravilhoso. Eu queria poder ler como ela.


Mas chega deste parêntesis).


E o escrito que eu queria não consegui continuar. Estou meio brava. Vou sair da frente computador e viver minha terça-feira chuvosa de feriado.


Respeitável público, amanhã eu retomo os textos desse blog como têm que ser. Sem desabafos digressivos livre-associativos.

3 comentários:

Mari Rocha disse...

Tá espalhando crise na blogosfera?

travei!!!

beijo!

Dmis disse...

toda experiencia literaria carga en sí un infinito de soledades y contradicciones... y es duro el espejo de las palabras, como es duro ´reconocerse´ ante el trivial espejo de los elevadores, baños y teatros... vale fuerza y raza, vale llanto y hasta desistencia... sólo no vale, no arriesgarse!!!

Marina disse...

"E quando não dá tempo, ao invés de correr, é preciso desacelerar. Permitir-se debruçar sobre um instante apenas". Muito bonito e verdadeiro.

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