Quando Benjamin tinha suas poucas semanas, um lugar da casa muito freqüentado pelo colo da vez era a frente da janela da sala. No intervalo de depois da mamada ou no tempo de fazer dormir ou acalmar, lá ficávamos, olhando pra longe (sim, a janela aqui oferece tamanha regalia nos céus ocupados desta cidade cinza) ou pra perto, mais precisamente pro prédio da frente.
Lá ficava eu, Benjamin no colo, horas a fio, com as pernas um pouco afastadas e aquele balanço praláepracá no corpo (há que se dizer que o tal balanço foi flagrado se insistindo em situações equívocas, como elevador, conversa ao telefone, filas de espera variadas, etceteras mil, situações em que os braços estavam desocupados). E, indiscrições janeleiras à parte, fui me apegando mais e mais à fachada, às cortinas, luzes e habitantes do prédio da frente, com seus contornos e hábitos que se tornavam familiares.
Eu contava os andares, adivinhava acenderes de luzes, movimentos, rotinas. Graças ao binóculo à minha visão de lince, acompanhava as horas da senhora do último andar, sentada na poltrona, carretel de lã caindo dos joelhos. E adivinhava o significado dos gestos da conversa do casal do sétimo. Bisbilhotava o que assistia o morador do quinto andar enquanto se empenhava na monotonia de uma bicicleta ergométrica; sorria com as crianças do primeiro, que brincavam enquanto o pai pintava telas no quarto ao lado.
Nas madrugadas, me sentia solitária. O décimo primeiro às vezes dormia tarde, mas às quatro da manhã, mais ninguém. Só aos finais de semana, quando eu adivinhava meias-luzes nas frestas das persianas abaixadas. Quando tudo escurecia, eu buscava no longe qualquer luz de outro prédio, implorando pra me dizer que eu não era a única criatura (além dos outros moradores desta casa) que àquela hora não dormia. (Poxa, eu pensava, não tem mais nenhum bebê na região? Ou será que tem e o meu amado Benjamin é o único da cidade que ainda não dorme a noite toda?)
E os dias foram passando e o amado Benjamin crescendo e o mosaico de luzes do prédio da frente (caleidoscópio disperso no tempo) ficando por ali do outro lado da rua, e nós deste lado de cá, cada vez menos na janela. E menos. E menos. Menos.
Até eu me perceber, olhando de relance a família do sexto na mesa de jantar, saboreando uma certa saudade daqueles companheiros mudos. Uma nostalgia de ter o Benjamin nos braços por tanto tempo. Pequenininho, acalorado no meu balançar, enquanto imaginava o cachecol que se formava pelas mãos da senhora do último.
E nos dias frios que nos visitaram, quando andava por aí na rua, mirava cada senhorinha de cachecol das redondezas com olhos de quem sabe a trama daqueles tecidos.
***
Comemoração bem modesta mas bem contente, envergonhada de pequena, admirada dos queridos blogs aniversariantes de verdade: hoje o leite e prosa faz um mês!
14 comentários:
parabéns pela data!
tem que comemorar mesmo, é uma data importante!
eu lembro que comemorei 35 visitantes logo qdo comecei meu blog, hihihih! acho super válido.
e, como sempre, lindo texto: fiquei imaginando cada um dos seus saudosos companheiros de cotidiano.
um beijão
minha janela só dá para vizinho cheios de penas: maritacas, sabiás e uns pardais pequetitos. é lindo, mas um pouco menos interessante que a sua vista...
parabéns pelo primeiro mês!
beijo
Um mês MARAVILHOSO!!!
Suas palavras são um presente!!
E o Amor de Maria Flor tem tímidos 15 dias!!!
Parabéns e mil beijos em vc e no Benja!
Com carinho,
Dani e Maria Flor!
Talvez um filho, talvez um teste, certamente uma vida. Uma vez em um texto seu uma dúvida quanto a estética, cada vez mais compreendo. Penso que o desafio fio filho aflora. Flora em quem gera o novo no lugar em que a palavra não espera, por isso voa. Agora eu, que sem maternagem posso, percebo o voo que a função impõe. Voe em teste o texto que se abre, pois em viver,a palavra some.
Some, somar só somos.
Tornar-se mãepai ensina-nos somente a ser mais pais(paz). Gerar é um lugar em que nos faz girar, girar, girar, e ir até onde rir há.
Um texto obrigado é pior que um teste que agradeçe. Parabéns pela estética escrita, em vida e em texto.
Nati, Natinina, natininininaaaaa, na cadência de seu choro de 3 marchas de bebê....Lembranças lindas. Emoções profundas que não se calam nunca e mais ainda agora, como um investimento cujos juros são incontáveis. Que mãe mais desnaturada que não olha, acompanha e escreve um comentário!!! mas, mesmo assim me alertando, sem cobranças - chega o tempo de te agredecer pelo por esse presente que você me dá. .. Que idade teria quando começei a te comprar todos os livros que quisesse. Para isso, não haveria de ter limites. E agora, me ensinas que até livro, tem limites. Poderia escrever, escrever muito das lembranças que tudo isso me traz, mas estaria roubando um espaço e atenção que mais que merecidamente são seus. Parabéns pelo blog e obrigada por me fazer avó do Benjamim de um jeito "que nem dá prá contá. Tanta emoção não sei ainda expressá... e esse blog há de se frutificá e um dia, por que não, um livro vai virá." Obrigada por me permitir tanto amar meu querido Benjamim, que já sabe tão bem se conectar e um dia há de se ler aqui.
Oi, Natália, vim aqui conhecer seu blog e não parei de ler, quando vi estava lá no comecinho. Seu texto é ótimo, seu blog é ótimo e seu filho é lindo!
Vou linkar lá no Projetinho de Vida pra te acompanhar, ok?
Beijos,
Roberta
É incrível como a gente depois sente saudades destas coisinhas dos primeiros meses, né?
E, por falar nisso, parabéns pelo primeiro mês do blog.
Beijos
Olá Natália,
Seus textos são deliciosos. De uma delicadeza e sensibilidade que não nos permitem parar de ler.
Continue...
Passarei por aqui sempre.
(Ah! Seu filhote é lindo!)
bjo,
com carinho,
Fabi (faby.rod@bol.com.br)
Pessoas invisíveis.
Parabéns pelo mesversário!
Natalia,
Não vale. Entrei aqui para retribuir a visita, li um post, li dois, li quase todos. E o prazo processual aqui do meu lado, esperando para ser concluído. Virei fã. E volto. Com calma.
beijos e muito prazer!
Adorei o texto...e eles nem sabiam que estava te fazendo companhia!
Clarisse...que relato lindo de mãe e avó!
beijo pras duas e pro gato Benjamin claro!
Adriana
estavam...
Olá Natalia,
Acabei de conhecer seu blog e ADOREI esse post!!! Nas madrugadas enquanto eu embalava a Clara eu tb me sentia sozinha pensando que eu era a única mãe da região rsrsrsrsrs
PARABENS pelo blog
e aqui entre nós... ser mãe é a maior dádiva da vida !!
Visite meus blogs
www.mundo-de-clara.blogspot.com
www.laranjeiraskids.blogspot.com
bj
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