quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Privilégios

Tive o privilégio de ler um cara chamado Jorge Larrosa pouco antes do nascimento do Benjamin. Foi em outra das insônias prévias à chegada dele, umas duas ou três noites antes, que conheci um texto chamado “O enigma da infância ou o que vai do impossível ao verdadeiro”, do livro Pedagogia Profana. Não tinha o intuito de trazer ao blog textos alheios, mas desse não tive como escapar.

Trago, então, esses trechos (com uma dificuldade enorme de selecionar, porque a vontade era colocar o negócio todo, tão assombroso)...


“...quando uma criança nasce, um outro aparece entre nós. E é um outro porque é sempre algo diferente da materialização de um projeto, da satisfação de uma necessidade, do cumprimento de um desejo, do complemento de uma carência ou do reaparecimento de uma perda. É um outro enquanto outro, não a partir daquilo que nós colocamos nela. É um outro porque sempre é outra coisa diferente do que podemos antecipar, porque sempre está além do que sabemos, ou do que queremos ou do que esperamos. (...) uma criança é algo absolutamente novo que dissolve a solidez do nosso mundo e que suspende a certeza que nós temos de nós próprios. Não é o começo de um processo mais ou menos antecipável, mas uma origem absoluta, um verdadeiro início. (...) (É) o instante da absoluta descontinuidade , da possibilidade enigmática de que algo que não sabemos e que não nos pertence inaugure um novo início. Por isso, o nascimento não é um momento que se possa situar numa cronologia, mas aquilo que interrompe toda cronologia.”

“Uma imagem do totalitarismo: o rosto daqueles que, quando olham para uma criança, já sabem, de antemão, o que vêem e o que têm que fazer com ela. A contra-imagem poderia resultar da inversão da direção do olhar: o rosto daqueles que são capazes de sentir sobre si mesmos o olhar enigmático de uma criança, de perceber o que, nesse olhar, existe de inquietante para todas suas certezas e seguranças e, apesar disso, são capazes de permanecer atentos a esse olhar e de se sentirem responsáveis diante de sua ordem: deves abrir, para mim, um espaço no mundo, de forma que eu possa encontrar um lugar e elevar a minha voz!”

Sim.


***


Tive também o privilégio de receber hoje em casa visitas deliciosas. Gostei demais do papo com a Mari, dos sorrisos irresistíveis da Laurinha, das confluências e afluências. Benjamin também se derreteu em sorrisos e babas e bolhinhas de leite e toques nas mãozinhas de sua mais nova amiga.

O Demis chegou, viu a máquina fotográfica ali e perguntou se tínhamos tirado fotos. Ai, que mães desligadas, não? No próximo a gente não esquece.

Um comentário:

Patricia disse...

Nossa Natalia, sensacional! vou procurar esse livro.
Estou aqui. De novo. Viciei.

bj

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